sexta-feira, 26 de setembro de 2014

À medida que o primeiro turno se aproxima, um breve resumo comentado das eleições presidenciais

Custei a tomar coragem, mas finalmente resolvi escrever sobre o grande evento político do ano. Hesitei muito, pela minha imaturidade política, mas neste ano há peculiaridades que eu não vi em minhas outras experiências de eleições, que por sinal não são muitas. De qualquer forma, é a primeira sucessão presidencial em que eu votarei, mas não a primeira em que eu voto e muito menos a primeira que eu acompanho, portanto creio que seja um momento ótimo para estudar e debater algumas coisas.

Desde o ano passado até pouquíssimo tempo atrás, a disputa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves foi o centro das atenções, evidenciando a “tradicional” polarização PT-PSDB. Quando as primeiras pesquisas foram lançadas, colocava-se que Dilma tinha chances de vencer no primeiro turno, mesmo após as Jornadas de Junho, que causaram uma queda significativa na popularidade da Presidenta. Esta situação foi se alterando ao longo dos meses, com Dilma oscilando bastante e Aécio subindo aos pouquinhos, enquanto Eduardo Campos, candidato da chamada “terceira via” pelo PSB e espécie de “sombra” de Marina Silva, se mantinha estável e os candidatos “nanicos” eram ignorados pela mídia tradicional.

Antes de passar adiante, devo lembrar que 2014 não é só ano de eleições. Foi também ano de Copa do Mundo e, por mais que isso não tenha um significado tão potente do pleito (se é que tem) quanto tem para mim, os 50 anos do Golpe Civil-Militar de 1964.

As poucas pessoas que acompanham este blog sabem que eu comparei muito os anos de 2014 e 1964, em especial no que diz respeito aos absurdos, como a segunda edição da Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade, causada por um sentimento anticomunista irracional que não faz o mínimo sentido existir na nossa época. Acho que esse tipo de atitude diz um pouco sobre os diferentes tipos de pensamento que a população possui, e neste caso em específico, me parece bastante assustador e representa um retrocesso lastimável. Seja como for, isso se uniu à Copa do Mundo no Brasil, que foi marcada, principalmente pela grande mídia, pelos superfaturamentos. Como o PT é considerado por determinada parcela da população como O antro de corrupção, o megaevento foi um prato cheio para estupefações, ignorando alguns problemas bem mais sérios causados por ele, como o despejo de famílias e a violência policial.

Dentro deste contexto todo, as intenções de voto em Dilma diminuíram e se estabilizaram, enquanto parecia que as tendências eram para que Aécio subisse. Confesso que foi um momento desagradável – só de imaginar a possibilidade do PSDB voltando ao poder, fiquei um tanto temerosa. Não que eu tenha vivido de fato o governo FHC – afinal, minha primeira “lembrança política” é a eleição de Lula em 2002, mas sendo filha de professores universitários do sistema federal e vivendo no Paraná, um Estado governado pelo PSDB, conheço o suficiente da história e da ideologia do partido para querer ele longe do Planalto. O que ninguém esperava é que antes mesmo do início dos programas eleitorais começarem a interromper as novelas e os telejornais, o terceiro lugar da disputa, Eduardo Campos, morreria em um acidente de avião.

Que reviravolta! Logo Marina Silva foi declarada candidata oficial do PSB e apareceu, logo na primeira pesquisa realizada com seu nome, no segundo lugar no primeiro turno e tecnicamente empatada com Dilma Rousseff no segundo. Aécio Neves, por sua vez, começou a cair naquele momento e não parou mais. O PSDB caiu no ramo da tal da terceira via e, pela primeira vez temos duas mulheres como favoritas na disputa pela Presidência da República.

Cenário, candidatos e – sim - alternativas
Eu diria, de uma maneira simples de analisar o cenário, que as consecutivas ascensões de Aécio nas pesquisas se deviam não a simpatia pelo PDSB, mas sim a uma forte rejeição ao PT. Dado isso, com a substituição de Campos por Marina, o eleitorado, que já era apreciador da ex-senadora desde 2010, levou seus votos a ela em busca de uma alternativa. Só que não é só a Marina que é uma alternativa, se é que ela realmente é uma. Há diversos partidos menores que são ignorados. É claro que há alguns candidatos realmente bizarros, como o ultradireitista [Pastor] Everaldo Pereira e o clássico Levy Fidelix. Também não deixa de ser (ou ter sido) bizarro o candidato do Partido Verde, Eduardo Jorge, que agiu de maneira totalmente fora de qualquer padrão durante os debates e tomou algumas posições tradicionalmente defendidas pela esquerda (à qual o PV não faz parte), como a descriminalização do aborto e a legalização das drogas. A candidatura mais à esquerda nos debates é a de Luciana Genro, do PSOL, que além das bandeiras do aborto de das drogas colocadas pelo candidato do PV, defende reforma tributária (taxação de grandes fortunas) e tem uma pauta muito importante que são os direitos dxs LGBTs (ou questões de gênero, para podermos tratar de maneira mais ampla), um dos (vários) assuntos que levaram a polêmicas envolvendo o plano de governo de Marina Silva.

Além dos candidatos mais presentes na mídia, há mais quatro candidatos menores, ignorados pelos debates e praticamente insignificantes nas pesquisas: Eymael, do PSDC; José Maria, do PSTU; Rui Costa Pimenta do PCO e Mauro Iasi, do PCB. Eymael tem um discurso clássico dos ditos “cristãos”, não se diferenciando muito, creio eu, de Everaldo Pereira. Apesar de sua pouca influência nas pesquisas e participação em um único debate, é bastante conhecido graças a seu lendário jingle. Já os outros três, provavelmente os presidenciáveis mais à esquerda de todos (inclusive mais que o PSOL), mal são lembrados, mesmo o veterano José Maria, que foi do PT, participando inclusive de sua criação. Carentes de recursos para as campanhas, o alcance dos partidos destes candidatos é muito curto e se comparado com os dos três melhor colocados, acaba se tornando insignificante. Lamentavelmente. Suas propostas não passam longe das necessidades da população, mas ainda assim a rejeição aos nomes socialismo e comunismo nas bases destes partidos se sobressai a ideias realmente interessantes e necessárias.

Está chegando

Com o pleito se aproximando, é bem provável que a disputa acabe entre Dilma e Marina. Acho difícil que Aécio suba de repente. Se nem mesmo em Minas Gerais, onde ele foi governador e vem focando sua campanha, o tucano está conseguindo manter o apoio, quem dera no resto do país, excetuando São Paulo e algumas regiões menores mais conservadoras. Agora, qual das duas candidatas ao segundo turno será vitoriosa, aí é outra história. Enquanto boa parte das pesquisas recentes indicou empate técnico, alterando um pouco as chances de Marina Silva, outras apontaram um enorme otimismo para o PT, sugerindo até mesmo uma nova possibilidade de Dilma vencer no primeiro turno. Não creio, de forma alguma, que isso venha a acontecer, mas me parece evidente que a petista ainda possui chances grandes de voltar ao Planalto. E entre Dilma e Marina, fico com Dilma. Ela não tem meu voto no primeiro turno, pois entre os onze presidenciáveis, para mim ela não é a melhor opção. Já no segundo turno, não confio em Marina – Margaret Thatcher para alguns, Lula para outros, não só sua credibilidade está manchada quanto seus posicionamentos se mostram cada vez mais similares aos do PSDB. Portanto, para mim é Thatcher. Respeito sua trajetória, assim como respeito a de Dilma. Todavia, para mim nenhuma das duas, no momento, representa um caminho efetivo de mudança.