segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Série "Por que estudamos certas coisas?": Filosofia

Então, por onde começar esta postagem?

Há exatos dois anos eu escrevi uma postagem chamada “Por que aprendemos certas coisas?”, na qual eu abordei quais eram as funções das diversas disciplinas que estudamos no ensino fundamental e médio.

Pois bem, sinceramente, lendo aqueles textos novamente, algo me veio à cabeça: como eu falei besteira.

Sim, falei tanta coisa errada, coisa que hoje em dia eu mal consigo acreditar que saiu do meu pensamento. Aqueles não são mais meus ideais, aliás, gostaria que jamais tivessem sido, e por isso que eu quero consertar algumas dessas besteiras, falando cada dia um pouco sobre uma disciplina diferente.

E o tema de hoje é: Filosofia.

Smok, por que você escolheu Filosofia primeiro?

Bom, principalmente porque foi uma das áreas mais “insultadas” do primeiro texto, pelo menos assim eu considero, e segundo porque, há alguns dias atrás, um dos meus professores de Filosofia lembrou-nos do significado de estudarmos tal ciência. Graças a isso, eu me lembrei do meu post e fui procurá-lo para ver o que eu havia escrito. Eis que eu acho a proeza:

Filosofia. Eu odiava. Aprendi a gostar. E também descobri porque eu odiava: porque tinha professores ruins. É o que eu sempre digo, a filosofia é maravilhosa, desde que aplicada da maneira correta. O problema desta ciência hoje em dia é que ela é dada pelas pessoas erradas. Pensem comigo: os grandes filósofos, em sua grande maioria, eram matemáticos, físicos, médicos...e hoje em dia quem nos ensina a filosofia são pessoas formadas em filosofia. Ou seja, qualquer um. Seja ele adequando para aquele conhecimento ou não. Aprendam: a filosofia é a arte de pensar, e não querer influenciar as pessoas.”

Uma coisa eu digo: minha base para escrever isso na época certamente foi a base ruim que eu tive no ensino fundamental, mas algumas coisas ainda existem na minha mente, porém seguem um caminho diferente. Vamos a tais:


“Eu odiava. Aprendi a gostar.”

É uma grande alegria da minha vida dizer que o preconceito que eu tinha com a Filosofia aos meus doze anos de idade de dissipou completamente logo que eu comecei o ensino médio, mesmo começando a ter aulas da disciplina só agora. O ambiente da universidade, as pessoas diferentes, as cabeças mais abertas me mostraram que a Filosofia era algo completamente diferente do que eu achava que ela era, e que no fundo era algo que eu fazia o tempo todo e gostava bastante. Isso se estendeu para outras áreas do conhecimento, principalmente na parte de estudos sociais.

Eu tive três anos de filosofia no ensino fundamental. A única coisa que me lembro da sexta série foi o professor contando a história do Mito da Caverna, de Platão. As outras memórias que tenho são todas da turma trazendo a sala abaixo enquanto o professor tentava fazer a chamada. Portanto, não foi desenvolvida uma base, uma linha de pensamento que conduzisse os anos seguintes da disciplina, fazendo com que nenhum dos alunos se interessasse por ela. Em outras palavras, a sétima e a oitava série poderiam ter sido muito mais interessantes se eu soubesse o que a Filosofia realmente era. Devido àquele professor que não consegui controlar a turma, eu acabei perdendo certos conhecimentos que poderiam ter-me sido muito importantes na formação do meu caráter e dos meus ideais de vida.


“A filosofia sendo ensinada pelas pessoas erradas”

Eu vejo essa afirmação como uma ofensa. Uma ofensa de minha autoria, o que é ainda pior.
Em um ponto eu ainda concordo a questão de “qualquer um” pode fazer filosofia na faculdade e se dizer “filósofo.” Afinal, apesar de teoricamente uma pessoa que termina a faculdade estar apta a realizar a função para a qual foi treinada, sabemos que na prática as coisas são diferentes. Porém devo dizer que meus conceitos estão em constantes mudanças – pois apesar de que eu ter aquela imagem negativa dos meus professores do ensino fundamental – eu tive o prazer de conhecer, na universidade, professores e estudiosos da filosofia que merecem o título de “filósofo”.

Qual a diferença entre eles e os professores que eu tinha no colégio? Talvez nenhuma. Mas uma coisa que eu percebi é que as escolas não estão preparadas – ou a minha escola não estava preparada, não sei ao certo – para trabalhar a Filosofia da maneira como ela deve ser. A visão que eu tinha dessa ciência era puramente “estão tentando me dizer o que eu devo fazer”. Pois bem, evidentemente eu estava errada. Em parte: estavam sim me dizendo o que fazer – estavam me dizendo para pensar. Ensinando-me a pensar. A indagar.

Como disse meu atual professor, “ (...) tudo aquilo que não parecer evidente deve ser questionado. Essa talvez seja nossa única determinação doutrinária: questionar tudo.”

Em outras épocas eu jamais entenderia a profundidade desta frase. Afinal, realmente, para uma criança de doze anos tudo isso parecia loucura, pura perda de tempo. A impressão que eu tinha na escola era de que a Filosofia estava lá para nos amadurecer como pessoas. Ou será que para estudar Filosofia precisa-se ter um determinado nível de maturidade? Quem sabe um pouco de ambos? É o que me parece.

Mas quando digo maduros, digo não somente no sentido de responsáveis, conscientes e abertos. Também no sentido de saber construir o argumento, saber lidar com o conhecimento. E talvez algo mais, algo que não pode ser transposto em palavras, mas que nós, quando sentimos, sabemos o que significa.


“Pensem comigo: os grandes filósofos, em sua grande maioria, eram matemáticos, físicos, médicos...e hoje em dia quem nos ensina a filosofia são pessoas formadas em filosofia.”

De fato. Na Antiguidade, nas Idades Média, Moderna, e em parte da Contemporânea, de fato, a Filosofia era tão diferente quanto a sociedade. Ambas mantiveram sua essência, mas evoluíram com o tempo, assim como a humanidade. O que significa que o acesso à Filosofia também se tornou diferente. Afinal, por que mesmo só os físicos, matemáticos, e outros cientistas poderiam ser filósofos? Não teriam eles vivido em épocas em que a maior parcela da população era miserável e quase completamente anônima? Em que mesmo que houvesse verdadeiros filósofos entre as massas populares, estes seriam provavelmente seriam condenados ao oblívio?

Além de que claro, não podemos deixar de considerar as filosofias orientais e mesmo das tribos indígenas de todo o planeta, na maioria das vezes mascaradas pela maior representação vinda do norte do Mediterrâneo.

Mas chegando à última parte da frase, sobre as “pessoas formadas em Filosofia”. Primeiramente, devo dizer que não concordo com o título de Filósofo para um Bacharel em Filosofia. Não sei se as pessoas chamam assim por senso comum, ou se há outra nomenclatura oficial, mas eu acho injusto, tanto com pessoas de fora quanto de dentro do campo acadêmico da Filosofia, dizer que quem é formado em Filosofia é um filósofo.

Eu o chamaria de pensador, inegavelmente. Mas eu acredito plenamente na possibilidade de que qualquer pessoa pode se tornar um filósofo – é claro que as chances de um bacharel são muito maiores, porém eu acredito que a Filosofia em si se constrói dentro da pessoa, como uma reflexão daquilo que ela incorporou ao longo de seus estudos.


Por fim, gostaria de reiterar que eu odiava Filosofia pelo único e exclusivo motivo de não conhecê-la, não saber o que ela realmente era, e quando finalmente eu percebi que a exercia diariamente, apesar de talvez não da maneira mais acurada, descobri que era algo que eu realmente gostava, e gostava muito. A Filosofia é a arte de indagar, conhecer e complementar, é o outro extremo racional da matemática, que abre nossas mentes de maneira não linear e ilimitada, dando ao indivíduo a liberdade de ter suas próprias ideias, criar sua própria felicidade e mesmo que ela seja conferida como um fim em si mesmo, ela tem como consequência prática um encontro do homem com si mesmo, no qual ele se questiona, se estuda e se conhece.