quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A polêmica exumação de Jango

Recentemente, uma enorme polêmica surgiu no cenário político e histórico brasileiro: a exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, deposto em 1964 através de um golpe que daria origem à ditadura militar que perdurou até 1985 no país. O objetivo da tal exumação seria descobrir qual a verdadeira causa da morte do presidente, tido, oficialmente, como vítima de um ataque cardíaco.



Envolta das notícias acerca do caso surgiram muitos comentários bastante revoltados, reclamando que há muito mais o que se fazer no Brasil e que tudo isso faz parte de um circo inventado pelo governo para distrair a população. Falam que é campanha de reeleição, tem uns que falam que é “prelúdio pra golpe comunista”, entre outras coisas.

Não é bem de política que estou aqui para falar; não me considero uma pessoa suficientemente entendida de política a ponto de julgar qualquer coisa. Estou aqui para falar de história, de educação e de como as pessoas têm uma imagem errada de certos atos.

Não, não estou defendendo o governo. Estou é defendendo uma causa histórica. Muita gente disse que há muitas coisas deveras mais importantes a serem feitas pelo país, e não lhes tiro o mérito; de fato a nossa sociedade vive em estado de emergência há muito tempo. Pedem por saúde, transporte, trabalho e educação – e aí que entra a importância do recorrer desta causa histórica.

A exumação do corpo de Jango é sim uma forma de educação. Indireta, mas conhecer a história de sua nação faz parte da formação do indivíduo. É uma razão para as pessoas irem atrás de encontrar o que realmente acontece nesse país, uma forma de elas estudarem, afinal não é isso que elas tanto pregam? Reclamam que não há educação no país, mas quando surge uma oportunidade de elas darem um passo a mais para fora da alienação, elas criticam dizendo que aquilo não leva a nada?

Pode até ser que os problemas sociais estejam acima da resolução do caso de João Goulart, mas isso não exclui o fato de que uma hora ou outra ele teria de ser resolvido. É claro que isso não trará Jango de volta (infelizmente), mas é uma forma de fazer a nação refletir sobre quem esteve ou está no poder. Não basta acatar o que se vê na mídia. Deve-se olhar para todos os lados da moeda, que podem ser, aparentemente, apenas dois, mas se olharmos por diferentes ângulos, perceberemos detalhes que não se percebe quando se julga apenas por cara ou coroa.


Finalmente, gostaria de concluir dizendo que acredito plenamente que a polêmica exumação do corpo da grande personalidade que foi João Goulart trará sim benefícios ao país, não no curto, mas sim no longo prazo – revelando para o povo que diferentemente do que se pensa, não há mocinhos ou vilões quando se trata de história. O caso de Jango nos traz um passo a mais para a educação. Assim, os brasileiros poderão finalmente conhecer um pouco melhor de seu passado para construir um bom futuro.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Série "Por que estudamos certas coisas?": Ensino Religioso

E vamos ao episódio de hoje: Ensino Religioso.

Desde que eu me lembro, desde a Educação Infantil até o fim do Ensino Fundamental, eu tive aulas de Religião. Devo dizer que nunca foi a disciplina que eu mais apreciei, uma vez que apesar de ter tido uma criação católica, e ter estudado em um colégio de padres, minha ligação com isso tudo é praticamente nula. Seguindo essa ideia, eu sempre disse que estudar Religião era simplesmente inútil. Devo dizer que hoje ainda não me agrada, mas não deixarei de defender essa disciplina que por tanto tempo me deixou bastante confusa em relação a suas razões.

Por que escolhi Ensino Religioso como sendo minha segunda defesa? Porque certamente foi a mais insultada das disciplinas! E com os piores argumentos, eu diria!

“Religião. A única matéria na minha vida que eu realmente disse “Pra que isso vai servir?”. Mas realmente, era algo absurdo. Bom, antes de mais nada, a importância desta disciplina é, acima de tudo, saber que existem diferenças e que elas devem ser respeitadas. Outra coisa é você ter uma base do que cada um acredita, para não cometer erros na sociedade, pois cada religião traz um princípio do bom senso. Mas tudo tem seus limites. Acho que até a quarta série já está bom, no máximo a quinta, porque depois essa matéria realmente ENCHE O SACO. Afinal, eles só repetem tudo o que você já sabe, pelo menos foi o que aconteceu no meu caso. E foi por isso que eu disse que aquilo não ia servir para nada: tinha uma questão numa prova que você tinha que saber todos os detalhes do casamento hindu. GENTE? Será que não dá pra separar respeito de decoreba? De fato, isso não me vai ser útil, posso até ser um pouquinho mais culta, mas no mais,  isso será esquecido e não será utilizado para mais nada.”

Este texto provém de uma perspectiva ateísta um tanto radical, sem nenhuma chance de abertura a novas ideias. É um texto um tanto ridículo, desde a sua linguagem agressiva, às suas ideias e sua argumentação. Portanto vamos a nossa divisão:


Bom, antes de mais nada, a importância desta disciplina é, acima de tudo, saber que existem diferenças e que elas devem ser respeitadas.

Primeiro grande erro: a importância do Ensino Religioso inclui, mas não é somente a ideia de que existem diferenças que devem ser respeitadas (é claro que muitas religiões trazem consigo discussões morais e éticas por parte de outros grupos sociais, mas não entremos nisso). Questões religiosas são também questões culturais, históricas e geopolíticas. Elas influenciam diretamente no modo como vivemos, seja em qualquer lugar do mundo. Não é só no Oriente Médio ou na Inglaterra anglicana que há influência da Religião no Estado e na sociedade, diferentemente do que muita gente por aí pensa. O próprio Brasil já viu muito disso, e não só em questões grandes e discutíveis como a do Pastor Marco Feliciano. A influência é direta em nosso modo de vida, no nosso modo de ver as coisas, as pessoas, e também na ciência.

Já vimos muitos debates sobre o aborto e as pesquisas com células-tronco, baseados nos ideias ético-morais da Igreja Católica. Também sabemos que alguns costumes, tais como guardar o domingo, são influenciados pela religião. Não, não é à toa que é no domingo e não na quarta-feira que temos um dia de folga. Afinal, segundo a Bíblia, Deus teria descansado no sétimo dia. Seja esse dia qual ele for, o domingo foi institucionalizado e aqui estamos nós.

Em suma, o que eu quero dizer é que a Religião tem esporos espalhados por todos os cantos da sociedade, até onde menos esperamos - e isso acontece em todo o mundo.


Outra coisa é você ter uma base do que cada um acredita, para não cometer erros na sociedade, pois cada religião traz um princípio do bom senso.

De fato! É realmente importante conhecer esses princípios, você concorde com eles ou não. De uma maneira geral, posso dizer que, dentre meus conhecidos, a maioria das pessoas que frequentam templos e convivem em comunidade tende a ter boa conduta, ser firme na família e ter valores morais muito fortes. Mas como eu já salientei, essas pessoas são maioria, e não o todo. Infelizmente. Porém é sempre bom lembrar que não é só a vida espiritual que nos traz valores, e que somente ela provavelmente não será suficiente para tornar o indivíduo mais humanizado.


Mas tudo tem seus limites. Acho que até a quarta série já está bom, no máximo a quinta, porque depois essa matéria realmente ENCHE O SACO. Afinal, eles só repetem tudo o que você já sabe, pelo menos foi o que aconteceu no meu caso.

Sim, de fato, ao longo do tempo, quando você vai crescendo, você fica um pouco irritado com a matéria. Porém, é justamente o amadurecimento que nos faz enxergar a disciplina de Ensino Religioso de modos diferentes na 1ª e na 8ª série. O problema é, parece-me que hoje esse amadurecimento é muito mais tardio, e quando chegamos à oitava série, ainda somos crianças. Não só isso – não desenvolvemos nosso próprio pensamento. O que é lamentável, pois acabamos assim mantendo alguns preconceitos, tais como esse mesmo do qual estou tentando me redimir.


E foi por isso que eu disse que aquilo não ia servir para nada: tinha uma questão numa prova que você tinha que saber todos os detalhes do casamento hindu. GENTE? Será que não dá pra separar respeito de decoreba? De fato, isso não me vai ser útil, posso até ser um pouquinho mais culta, mas no mais,  isso será esquecido e não será utilizado para mais nada.

E é aí que eu me engano. Religião é mais do que adorar uma ou mais entidades. A Religião faz parte da Filosofia dos povos, não deixa de ser a busca pelo conhecimento verdadeiro. Dizer que nada disso é útil é negar o conhecimento. E negar o conhecimento é negar o diferencial do ser humano em relação aos outros animais. Negar a nossa essência.

Sem as considerações religiosas, a fé de cada uma das civilizações que formaram o mundo como o conhecemos hoje, o legados de cada crença deixou em todas as culturas, não teríamos chegado onde chegamos – seja isso bom o ou ruim – e certamente sem os questionamentos de tudo isso também não chegaríamos a lugar algum.

Agora, consideremos: será certo que todas as escolas, religiosas ou não, tenham aulas de Ensino Religioso?


Não creio que seja prudente responder sim ou não. Mas considero importante salientar, de maneira a concluir este post, que a Religião faz parte sim de todos os cantos da nossa sociedade; ela constitui as culturas, a Filosofia e até mesmo aquela que para muitos é sua “maior inimiga” – a ciência. O Ensino Religioso faz parte da formação do senso crítico do indivíduo e, se executado de maneira laica, imparcial, quem sabe ela poderá estar presente em todo e qualquer currículo do Ensino Fundamental.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Série "Por que estudamos certas coisas?": Filosofia

Então, por onde começar esta postagem?

Há exatos dois anos eu escrevi uma postagem chamada “Por que aprendemos certas coisas?”, na qual eu abordei quais eram as funções das diversas disciplinas que estudamos no ensino fundamental e médio.

Pois bem, sinceramente, lendo aqueles textos novamente, algo me veio à cabeça: como eu falei besteira.

Sim, falei tanta coisa errada, coisa que hoje em dia eu mal consigo acreditar que saiu do meu pensamento. Aqueles não são mais meus ideais, aliás, gostaria que jamais tivessem sido, e por isso que eu quero consertar algumas dessas besteiras, falando cada dia um pouco sobre uma disciplina diferente.

E o tema de hoje é: Filosofia.

Smok, por que você escolheu Filosofia primeiro?

Bom, principalmente porque foi uma das áreas mais “insultadas” do primeiro texto, pelo menos assim eu considero, e segundo porque, há alguns dias atrás, um dos meus professores de Filosofia lembrou-nos do significado de estudarmos tal ciência. Graças a isso, eu me lembrei do meu post e fui procurá-lo para ver o que eu havia escrito. Eis que eu acho a proeza:

Filosofia. Eu odiava. Aprendi a gostar. E também descobri porque eu odiava: porque tinha professores ruins. É o que eu sempre digo, a filosofia é maravilhosa, desde que aplicada da maneira correta. O problema desta ciência hoje em dia é que ela é dada pelas pessoas erradas. Pensem comigo: os grandes filósofos, em sua grande maioria, eram matemáticos, físicos, médicos...e hoje em dia quem nos ensina a filosofia são pessoas formadas em filosofia. Ou seja, qualquer um. Seja ele adequando para aquele conhecimento ou não. Aprendam: a filosofia é a arte de pensar, e não querer influenciar as pessoas.”

Uma coisa eu digo: minha base para escrever isso na época certamente foi a base ruim que eu tive no ensino fundamental, mas algumas coisas ainda existem na minha mente, porém seguem um caminho diferente. Vamos a tais:


“Eu odiava. Aprendi a gostar.”

É uma grande alegria da minha vida dizer que o preconceito que eu tinha com a Filosofia aos meus doze anos de idade de dissipou completamente logo que eu comecei o ensino médio, mesmo começando a ter aulas da disciplina só agora. O ambiente da universidade, as pessoas diferentes, as cabeças mais abertas me mostraram que a Filosofia era algo completamente diferente do que eu achava que ela era, e que no fundo era algo que eu fazia o tempo todo e gostava bastante. Isso se estendeu para outras áreas do conhecimento, principalmente na parte de estudos sociais.

Eu tive três anos de filosofia no ensino fundamental. A única coisa que me lembro da sexta série foi o professor contando a história do Mito da Caverna, de Platão. As outras memórias que tenho são todas da turma trazendo a sala abaixo enquanto o professor tentava fazer a chamada. Portanto, não foi desenvolvida uma base, uma linha de pensamento que conduzisse os anos seguintes da disciplina, fazendo com que nenhum dos alunos se interessasse por ela. Em outras palavras, a sétima e a oitava série poderiam ter sido muito mais interessantes se eu soubesse o que a Filosofia realmente era. Devido àquele professor que não consegui controlar a turma, eu acabei perdendo certos conhecimentos que poderiam ter-me sido muito importantes na formação do meu caráter e dos meus ideais de vida.


“A filosofia sendo ensinada pelas pessoas erradas”

Eu vejo essa afirmação como uma ofensa. Uma ofensa de minha autoria, o que é ainda pior.
Em um ponto eu ainda concordo a questão de “qualquer um” pode fazer filosofia na faculdade e se dizer “filósofo.” Afinal, apesar de teoricamente uma pessoa que termina a faculdade estar apta a realizar a função para a qual foi treinada, sabemos que na prática as coisas são diferentes. Porém devo dizer que meus conceitos estão em constantes mudanças – pois apesar de que eu ter aquela imagem negativa dos meus professores do ensino fundamental – eu tive o prazer de conhecer, na universidade, professores e estudiosos da filosofia que merecem o título de “filósofo”.

Qual a diferença entre eles e os professores que eu tinha no colégio? Talvez nenhuma. Mas uma coisa que eu percebi é que as escolas não estão preparadas – ou a minha escola não estava preparada, não sei ao certo – para trabalhar a Filosofia da maneira como ela deve ser. A visão que eu tinha dessa ciência era puramente “estão tentando me dizer o que eu devo fazer”. Pois bem, evidentemente eu estava errada. Em parte: estavam sim me dizendo o que fazer – estavam me dizendo para pensar. Ensinando-me a pensar. A indagar.

Como disse meu atual professor, “ (...) tudo aquilo que não parecer evidente deve ser questionado. Essa talvez seja nossa única determinação doutrinária: questionar tudo.”

Em outras épocas eu jamais entenderia a profundidade desta frase. Afinal, realmente, para uma criança de doze anos tudo isso parecia loucura, pura perda de tempo. A impressão que eu tinha na escola era de que a Filosofia estava lá para nos amadurecer como pessoas. Ou será que para estudar Filosofia precisa-se ter um determinado nível de maturidade? Quem sabe um pouco de ambos? É o que me parece.

Mas quando digo maduros, digo não somente no sentido de responsáveis, conscientes e abertos. Também no sentido de saber construir o argumento, saber lidar com o conhecimento. E talvez algo mais, algo que não pode ser transposto em palavras, mas que nós, quando sentimos, sabemos o que significa.


“Pensem comigo: os grandes filósofos, em sua grande maioria, eram matemáticos, físicos, médicos...e hoje em dia quem nos ensina a filosofia são pessoas formadas em filosofia.”

De fato. Na Antiguidade, nas Idades Média, Moderna, e em parte da Contemporânea, de fato, a Filosofia era tão diferente quanto a sociedade. Ambas mantiveram sua essência, mas evoluíram com o tempo, assim como a humanidade. O que significa que o acesso à Filosofia também se tornou diferente. Afinal, por que mesmo só os físicos, matemáticos, e outros cientistas poderiam ser filósofos? Não teriam eles vivido em épocas em que a maior parcela da população era miserável e quase completamente anônima? Em que mesmo que houvesse verdadeiros filósofos entre as massas populares, estes seriam provavelmente seriam condenados ao oblívio?

Além de que claro, não podemos deixar de considerar as filosofias orientais e mesmo das tribos indígenas de todo o planeta, na maioria das vezes mascaradas pela maior representação vinda do norte do Mediterrâneo.

Mas chegando à última parte da frase, sobre as “pessoas formadas em Filosofia”. Primeiramente, devo dizer que não concordo com o título de Filósofo para um Bacharel em Filosofia. Não sei se as pessoas chamam assim por senso comum, ou se há outra nomenclatura oficial, mas eu acho injusto, tanto com pessoas de fora quanto de dentro do campo acadêmico da Filosofia, dizer que quem é formado em Filosofia é um filósofo.

Eu o chamaria de pensador, inegavelmente. Mas eu acredito plenamente na possibilidade de que qualquer pessoa pode se tornar um filósofo – é claro que as chances de um bacharel são muito maiores, porém eu acredito que a Filosofia em si se constrói dentro da pessoa, como uma reflexão daquilo que ela incorporou ao longo de seus estudos.


Por fim, gostaria de reiterar que eu odiava Filosofia pelo único e exclusivo motivo de não conhecê-la, não saber o que ela realmente era, e quando finalmente eu percebi que a exercia diariamente, apesar de talvez não da maneira mais acurada, descobri que era algo que eu realmente gostava, e gostava muito. A Filosofia é a arte de indagar, conhecer e complementar, é o outro extremo racional da matemática, que abre nossas mentes de maneira não linear e ilimitada, dando ao indivíduo a liberdade de ter suas próprias ideias, criar sua própria felicidade e mesmo que ela seja conferida como um fim em si mesmo, ela tem como consequência prática um encontro do homem com si mesmo, no qual ele se questiona, se estuda e se conhece.