quarta-feira, 19 de março de 2014

50 anos depois, a Marcha da Família se repete

Está marcada para acontecer, no próximo dia 22, um evento chamado Marcha da Família (com Deus Pela Liberdade). Trata-se da segunda edição de uma manifestação homônima ocorrida há exatos 50 anos, no dia 19 de março de 1964.

Talvez a única coisa que diferencie a Marcha da Família de 2014 da de 1964 é seu volume de apoiadores. O resto é tudo igual. A motivação, as influências, os participantes, tudo isso se assemelha ao erro que foi a série de manifestações que serviram de premissa para o Golpe de 1964. Tudo aquilo que se pregava, a proteção da estrutura da família e a negação do comunismo, não passou de um golpe de mídia para apoiar a tomada do poder pelos militares e de certa forma, leia-se de passagem, pelos Estados Unidos.

Influenciada pela mídia dominante, a tal Marcha contou com uma quantidade realmente gigantesca de pessoas – lê-se, nos jornais da época, cerca de 500 mil pessoas, enquanto outras fontes, mais atualizadas dizem 300 mil, ou até mesmo 200 mil. Seja lá qual desses números é o verídico, sabe-se muito bem que o número foi bastante significativo e isso era exatamente a faísca que os militares precisavam. O apoio da mídia foi fundamental para sustentar o que foi chamado, falaciosamente, de “Revolução de 1964” e o regime que se instauraria posteriormente. Foi durante a ditadura, inclusive, que Roberto Marinho ergueu as Organizações Globo, consolidando-se basicamente como o que eu ousaria chamar de praticamente o dono do Brasil. E assim continua, mesmo depois de morto.

E é dentro deste contexto que cresce a Marcha da Família de 2014, pelos mesmos motivos – uma mídia conservadora (apesar de estar mais sujeita a questionamentos, graças à Internet), a oposição (que não necessariamente apoia um golpe, porém alguns de seus eleitores sim) e o sentimento anticomunista irracional que prevalece desde a Revolução Cubana em 1959. Como eu expliquei no post anterior, sobre o Comício da Central do Brasil, tanto os governos populistas das décadas de 50 e 60 quanto o atual governo nada têm de comunistas, portanto não há justificativa para um golpe, uma intervenção militar ou sequer uma marcha pedindo tais ações.

As justificativas dadas pelos ativistas da Marcha da Família são, principalmente, a corrupção, a suposta ditadura comunista e a defesa da família que, segundo eles, seria a instituição base da boa sociedade. Porém, ao meu ver, falta a estas pessoas uma concepção de que quando se trata do mundo real, não se trata de bem ou mal, mas sim de saber lidar com as contradições do ser humano. O que eles veem como família? O que é a corrupção? E o que seria uma boa sociedade? E as liberdades individuais, onde ficam?

Pergunto-me, então, a que ponto chegamos. O ponto de haver uma segunda Marcha da Família com Deus Pela Liberdade pedindo por uma intervenção militar? Em um governo democrático (ainda que não o suficiente)! Não há nada de errado em questionar o governo, porém não basta questionar o governo: deve-se questionar também a oposição. Será que há mesmo um sentimento de melhoria para o país, ou seria tudo isso intriga política? E será que é uma intervenção militar que vai resolver as coisas, ou será que é uma reforma política unida reflexão sobre a nossa cultura?


Por isso, neste dia, recomendo parem e analisem. Leiam as publicações da oposição, mas também leiam as publicações governistas. E também aquelas que fazem oposição ao governo e também à oposição do governo. Estudem as ideias dos diversos setores. Não se limitem à opinião dos outros, leiam os textos originais, nem que seja uma única vez na vida, pois só assim é possível comparar ideias e ter credibilidade na crítica delas. Não queremos cometer o mesmo erro arcaico de 50 anos atrás. Não vamos ressuscitar ideias mortas e enterradas. O passado serve para conhecermos os erros, o presente para criar formas de evitá-los para que não se repitam no futuro.

Links falando da Marcha:



Nenhum comentário:

Postar um comentário