Está marcada para acontecer, no
próximo dia 22, um evento chamado Marcha da Família (com Deus Pela Liberdade).
Trata-se da segunda edição de uma manifestação homônima ocorrida há exatos 50
anos, no dia 19 de março de 1964.
Talvez a única coisa que diferencie
a Marcha da Família de 2014 da de 1964 é seu volume de apoiadores. O resto é
tudo igual. A motivação, as influências, os participantes, tudo isso se
assemelha ao erro que foi a série de manifestações que serviram de premissa
para o Golpe de 1964. Tudo aquilo que se pregava, a proteção da estrutura da
família e a negação do comunismo, não passou de um golpe de mídia para apoiar a
tomada do poder pelos militares e de certa forma, leia-se de passagem, pelos
Estados Unidos.
Influenciada pela mídia dominante,
a tal Marcha contou com uma quantidade realmente gigantesca de pessoas – lê-se,
nos jornais da época, cerca de 500 mil pessoas, enquanto outras fontes, mais
atualizadas dizem 300 mil, ou até mesmo 200 mil. Seja lá qual desses números é
o verídico, sabe-se muito bem que o número foi bastante significativo e isso
era exatamente a faísca que os militares precisavam. O apoio da mídia foi
fundamental para sustentar o que foi chamado, falaciosamente, de “Revolução de
1964” e o regime que se instauraria posteriormente. Foi durante a ditadura,
inclusive, que Roberto Marinho ergueu as Organizações Globo, consolidando-se
basicamente como o que eu ousaria chamar de praticamente o dono do Brasil. E
assim continua, mesmo depois de morto.
E é dentro deste contexto que cresce
a Marcha da Família de 2014, pelos mesmos motivos – uma mídia conservadora
(apesar de estar mais sujeita a questionamentos, graças à Internet), a oposição
(que não necessariamente apoia um golpe, porém alguns de seus eleitores sim) e
o sentimento anticomunista irracional que prevalece desde a Revolução Cubana em
1959. Como eu expliquei no post anterior, sobre o Comício da Central do Brasil,
tanto os governos populistas das décadas de 50 e 60 quanto o atual governo nada
têm de comunistas, portanto não há justificativa para um golpe, uma intervenção
militar ou sequer uma marcha pedindo tais ações.
As justificativas dadas pelos
ativistas da Marcha da Família são, principalmente, a corrupção, a suposta
ditadura comunista e a defesa da família que, segundo eles, seria a instituição
base da boa sociedade. Porém, ao meu ver, falta a estas pessoas uma concepção
de que quando se trata do mundo real, não se trata de bem ou mal, mas sim de
saber lidar com as contradições do ser humano. O que eles veem como família? O que
é a corrupção? E o que seria uma boa sociedade? E as liberdades individuais,
onde ficam?
Pergunto-me, então, a que ponto
chegamos. O ponto de haver uma segunda Marcha da Família com Deus Pela
Liberdade pedindo por uma intervenção militar? Em um governo democrático (ainda
que não o suficiente)! Não há nada de errado em questionar o governo, porém não
basta questionar só o governo:
deve-se questionar também a oposição. Será que há mesmo um sentimento de
melhoria para o país, ou seria tudo isso intriga política? E será que é uma
intervenção militar que vai resolver as coisas, ou será que é uma reforma
política unida reflexão sobre a nossa cultura?
Por isso, neste dia, recomendo
parem e analisem. Leiam as publicações da oposição, mas também leiam as
publicações governistas. E também aquelas que fazem oposição ao governo e
também à oposição do governo. Estudem as ideias dos diversos setores. Não se limitem
à opinião dos outros, leiam os textos originais, nem que seja uma única vez na
vida, pois só assim é possível comparar ideias e ter credibilidade na crítica
delas. Não queremos cometer o mesmo erro arcaico de 50 anos atrás. Não vamos
ressuscitar ideias mortas e enterradas. O passado serve para conhecermos os
erros, o presente para criar formas de evitá-los para que não se repitam no
futuro.
Links falando da Marcha:
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