Hoje estou aqui para deixar a
minha contribuição – por mais sutil que ela seja – para a discussão em relação
ao fenômeno dos Rolezinhos.
Não estou aqui simplesmente à toa
para falar disso. Venho acompanhando as notícias de maneira praticamente
obsessiva desde que os rolezinhos começaram, e apesar de eles estarem
diminuindo o ritmo agora, não escrever sobre isso certamente me deixaria muito incomodada.
Os rolezinhos não começaram como
manifestação política, mas eles tomaram este cunho por
acabarem trazendo à tona uma realidade social à qual boa parte dos brasileiros,
a dita classe média, ainda é alheia. Essa realidade é aquela causada pela falta
de infraestrutura social – em especial falta de educação de qualidade e falta
de oportunidade proporcionada pelo governo desde sempre. Assim, os jovens das
classes menos favorecidas acabam sendo intimidados pelo sistema. E foi assim
que tudo começou: a intimidação se deu pela repressão policial, fazendo mais
uma vez – como nos protestos de junho de 2013 – com que fossem questionados os
valores da sociedade em que vivemos.
Olhando, primeiramente, para a
questão racial. É inegável que ela existe, não só em espaços privados, como
shoppings, quanto também no ambiente de trabalho, e aqueles que dizem que isso
é “mimimi”, “ditadura do politicamente correto” geralmente são pessoas brancas,
não sujeitas à opressão, mas sim assumindo o papel de opressoras. É só observar
a quantidades de caucasianos numa periferia em relação à quantidade de negros,
e reparar em como ela se inverte quando se trata das classes mais altas. Os
negros não estão nas favelas ou alas mais pobres por pura coincidência ou por
falta de méritos: estão ali por conta de uma classe burguesa, branca e forte,
que faz questão de mantê-los pobres, sem educação e com as piores condições
possíveis. Então sim, há racismo e ele aconteceu sim nos rolezinhos, tanto por
parte dos frequentadores dos shoppings quanto das administrações dos
estabelecimentos.
Nisso entramos na questão do ser
pobre. Nesse país, ainda há muitas pessoas de pensamento retrógrado, que creem
que qualquer pessoa mais pobre é bandida, marginal. Quando se está em um
ônibus, e uma pessoa de roupas surradas ou com uma aparência mais simples entra
no veículo, já é motivo de olhares, de gente apertando bolsas e celulares. Ser
for negro então, ainda pior. Como eu já mencionei, estas pessoas não nasceram na periferia por opção, e a cultura imposta
à periferia está com eles desde sempre.
E o que é a cultura imposta
à periferia?
Não é o funk ostentação, a bagunça? E de onde vieram estas características?
A cultura ocidental em que
vivemos inclui um incentivo constante ao consumismo exacerbado, e as classes
menos favorecidas, tendo acesso a poucos meios de informação, acabam sendo
influenciadas por essa cultura, vivendo da esperança de ter um padrão luxuoso
de vida. É assim que eles acabam criando o funk ostentação, visitam shoppings,
compram roupas de marca. Ou seja – eles são vítimas do sistema selvagem que
vivemos hoje, vítimas de uma influência que atinge também as classes médias (as
quais, apesar de terem muito mais condições de recusarem, acabam aderindo cada
vez mais).
“Rolezinho
na agência de emprego ninguém quer, né?”
Este lamentável argumento se
tornou uma resposta frequente dos contrários aos rolezinhos. Pode-se dizer que
foi uma verdadeira calúnia a muitos dos jovens – que inclusive apareceram, em
programas da TV aberta, sendo entrevistados e sim – eles trabalham. Alguns
apenas estudam, outros apenas trabalham. Alguns podem até não fazer nenhum dos
dois, apesar de eu acreditar que é essencial que a pessoa tenha uma formação
mínima, não lhes tiro o direito de optar por sair da escola. Afinal, com um ensinopúblico como o nosso, a desmotivação que esses jovens recebem é tão grande queacaba tirando-lhes a vontade de estudar. E muitos deles acabam,
infelizmente, seguindo o caminho do crime.
E será que as pessoas que usam o
“argumento” “Rolezinho na agência de
emprego ninguém quer” já pensaram em colocar seus filhos no lugar dos
jovens rolezeiros? Afinal, é muito raro você ver um jovem de classe média
trabalhando. Eles costumam ter a escola paga pelos pais, seu consumo pago pelos
pais, e nem por isso alguém tira o direito deles de se divertirem indo a
shoppings. Eles não devem perder esse direito – assim como os rolezeiros também
não devem ser inibidos dele. Os arruaceiros existem – mas não estão limitados à
periferia. É uma lástima que a classe social e raça do indivíduo exerça tanta
influência sobre quem irá ser abordado e até mesmo apanhar da polícia ou não. Apenas
aqueles que se aproveitarem dos rolezinhos para cometer crimes é que devem ser responsáveis
por eles, e não todos os jovens que estão apenas organizando encontros.
Portanto, eu sou a favor dos
rolezinhos sim, pois eles são exatamente a mesma coisa que as outras pessoas
fazem – encontrar amigos e conhecidos em um espaço comum, conhecer pessoas
novas e participar de atividades de qualquer jovem tem o direito de participar.
A segurança deve ficar atenta sim, mas não aos rolezeiros, e sim a todos. Assim como todos têm o direito de
frequentarem espaços destinados ao lazer público, sem discriminação por cor,
origem ou estilo. Se os rolezinhos continuarem, e se manifestações parecidas
acontecerem, certamente os apoiarei, pois é só assim que ocorrerá a inclusão que
devia ter acontecido no século retrasado.
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