Há algum tempo eu venho
observando um fato que definitivamente me deixou estarrecida: gente criticando
a Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio de 2012. Jamais me passou
pela cabeça que tantas pessoas – ignorando aquelas que pedem por uma intervenção
militar, as quais têm uma opinião um tanto questionável, ao meu ver – poderiam
considerar uma Comissão criada para investigar torturas e assassinatos de
insurgentes a uma ditadura como algo desnecessário ou até mesmo indiferente à
democracia.
O primeiro fato deste tipo que me
espantou foi a reação negativa à exumação dos restos mortais do ex-presidente
João Goulart, a qual eu defendi arduamente. Junto disso, comentários em portais
de notícias dizendo coisas do tipo “O que é que essa comissão faz mesmo?” e
“temos que resolver o presente, o passado não muda nada!” representam a
completa negação do que provavelmente uma das poucas grandes vitórias da redemocratização em relação aos crimes cometidos na ditadura.
Comissões da Verdade existem pelo mundo todo – a primeira foi instalada em Uganda em 1974 – e muitas delas ajudaram
fortalecer a democracia, ao menos em parte, de boa parte de seus países de
origem. Afinal, o povo que conhece seu passado conhece também as origens dos
problemas sociais e portanto é mais capacitada a resolvê-los.
Infelizmente, este ainda não é o
caso do nosso Brasil, onde a população acha que toda a desgraça social está
centrada no atual governo. A corrupção não foi inventada nos anos 2000, nem em
1980. Ela sempre esteve presente, inclusive no governo civil-militar
(provavelmente, diga-se de passagem, o governo mais corrupto da nossa
história recente), que justificou o golpe não só na suposta armação comunista,
mas também na corrupção governista. Portanto, antes de dizer que os problemas
estão no presente, olhemos para trás e observemos o que mudou e o que
permaneceu. Será que a origem do descaso não vem lá de trás?
A CNV é um dos instrumentos para
isso. Creio que ela não só serve para transparecer a História, mas também para
ajudar a punir quem não foi punido (leia-se os torturadores – os torturados já
cumpriram além da pena). Ou seja, ela é caminho para alcançarmos outros atos de
justiça, não só cometidos entre 1946 e 1988 (período investigado pela CNV), mas
também aqueles de hoje. Os alicerces de muito do que acontece hoje provavelmente
se encontra neste período.
Portanto, gostaria de reiterar
meu total apoio à Comissão Nacional da Verdade – inclusive defendendo sua
continuidade após o final deste mandato, adiado para dezembro deste ano. Eu
espero, sinceramente, que ela ajude trazer à tona respostas para nosso atuais
conflitos, e tenho um certo otimismo quanto a isso, já que muito já foi
descoberto pela Comissão e vem popularizando a história do nosso país de uma
maneira mais transparente.
Não estou dizendo que resolver o
passado é a prioridade, e que os problemas atuais não são importantes. O que eu
quero esclarecer é que enquanto negarmos a apuração do passado, jamais sairemos
dele. Em outras palavras, o presente deve ser resolvido conhecendo o passado e
suas controvérsias devem ser resolvidas juntas, utilizando-se dos benefícios
que a História pode trazer para o conhecimento do nosso próprio país.
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