E vamos ao episódio de hoje:
Ensino Religioso.
Desde que eu me lembro, desde a
Educação Infantil até o fim do Ensino Fundamental, eu tive aulas de Religião.
Devo dizer que nunca foi a disciplina que eu mais apreciei, uma vez que apesar
de ter tido uma criação católica, e ter estudado em um colégio de padres, minha
ligação com isso tudo é praticamente nula. Seguindo essa ideia, eu sempre disse
que estudar Religião era simplesmente inútil. Devo dizer que hoje ainda não me
agrada, mas não deixarei de defender essa disciplina que por tanto tempo me
deixou bastante confusa em relação a suas razões.
Por que escolhi Ensino Religioso
como sendo minha segunda defesa? Porque certamente foi a mais insultada das
disciplinas! E com os piores argumentos, eu diria!
“Religião. A única
matéria na minha vida que eu realmente disse “Pra que isso vai servir?”. Mas
realmente, era algo absurdo. Bom, antes de mais nada, a importância desta
disciplina é, acima de tudo, saber que existem diferenças e que elas devem ser
respeitadas. Outra coisa é você ter uma base do que cada um acredita, para não
cometer erros na sociedade, pois cada religião traz um princípio do bom senso.
Mas tudo tem seus limites. Acho que até a quarta série já está bom, no máximo a
quinta, porque depois essa matéria realmente ENCHE O SACO. Afinal, eles só
repetem tudo o que você já sabe, pelo menos foi o que aconteceu no meu caso. E
foi por isso que eu disse que aquilo não ia servir para nada: tinha uma questão
numa prova que você tinha que saber todos os detalhes do casamento hindu.
GENTE? Será que não dá pra separar respeito de decoreba? De fato, isso não me
vai ser útil, posso até ser um pouquinho mais culta, mas no mais, isso
será esquecido e não será utilizado para mais nada.”
Este texto provém de uma
perspectiva ateísta um tanto radical, sem nenhuma chance de abertura a novas
ideias. É um texto um tanto ridículo, desde a sua linguagem agressiva, às suas
ideias e sua argumentação. Portanto vamos a nossa divisão:
Bom,
antes de mais nada, a importância desta disciplina é, acima de tudo, saber que
existem diferenças e que elas devem ser respeitadas.
Primeiro
grande erro: a importância do Ensino Religioso inclui, mas não é somente a
ideia de que existem diferenças que devem ser respeitadas (é claro que muitas
religiões trazem consigo discussões morais e éticas por parte de outros grupos
sociais, mas não entremos nisso). Questões religiosas são também questões
culturais, históricas e geopolíticas. Elas influenciam diretamente no modo como
vivemos, seja em qualquer lugar do mundo. Não é só no Oriente Médio ou na
Inglaterra anglicana que há influência da Religião no Estado e na sociedade,
diferentemente do que muita gente por aí pensa. O próprio Brasil já viu muito
disso, e não só em questões grandes e discutíveis como a do Pastor Marco
Feliciano. A influência é direta em nosso modo de vida, no nosso modo de ver as
coisas, as pessoas, e também na ciência.
Já
vimos muitos debates sobre o aborto e as pesquisas com células-tronco, baseados
nos ideias ético-morais da Igreja Católica. Também sabemos que alguns costumes,
tais como guardar o domingo, são influenciados pela religião. Não, não é à toa
que é no domingo e não na quarta-feira que temos um dia de folga. Afinal,
segundo a Bíblia, Deus teria descansado no sétimo dia. Seja esse dia qual ele
for, o domingo foi institucionalizado e aqui estamos nós.
Em
suma, o que eu quero dizer é que a Religião tem esporos espalhados por todos os
cantos da sociedade, até onde menos esperamos - e isso acontece em todo o
mundo.
Outra
coisa é você ter uma base do que cada um acredita, para não cometer erros na
sociedade, pois cada religião traz um princípio do bom senso.
De
fato! É realmente importante conhecer esses princípios, você concorde com eles
ou não. De uma maneira geral, posso dizer que, dentre meus conhecidos, a
maioria das pessoas que frequentam templos e convivem em comunidade tende a ter
boa conduta, ser firme na família e ter valores morais muito fortes. Mas como
eu já salientei, essas pessoas são maioria,
e não o todo. Infelizmente. Porém é sempre bom lembrar que não é só a vida
espiritual que nos traz valores, e que somente ela provavelmente não será
suficiente para tornar o indivíduo mais humanizado.
Mas
tudo tem seus limites. Acho que até a quarta série já está bom, no máximo a
quinta, porque depois essa matéria realmente ENCHE O SACO. Afinal, eles só
repetem tudo o que você já sabe, pelo menos foi o que aconteceu no meu caso.
Sim,
de fato, ao longo do tempo, quando você vai crescendo, você fica um pouco
irritado com a matéria. Porém, é justamente o amadurecimento que nos faz
enxergar a disciplina de Ensino Religioso de modos diferentes na 1ª e na 8ª
série. O problema é, parece-me que hoje esse amadurecimento é muito mais
tardio, e quando chegamos à oitava série, ainda somos crianças. Não só isso –
não desenvolvemos nosso próprio pensamento. O que é lamentável, pois acabamos
assim mantendo alguns preconceitos, tais como esse mesmo do qual estou tentando
me redimir.
E
foi por isso que eu disse que aquilo não ia servir para nada: tinha uma questão
numa prova que você tinha que saber todos os detalhes do casamento hindu.
GENTE? Será que não dá pra separar respeito de decoreba? De fato, isso não me
vai ser útil, posso até ser um pouquinho mais culta, mas no mais, isso
será esquecido e não será utilizado para mais nada.
E
é aí que eu me engano. Religião é mais do que adorar uma ou mais entidades. A
Religião faz parte da Filosofia dos povos, não deixa de ser a busca pelo conhecimento
verdadeiro. Dizer que nada disso é útil é negar o conhecimento. E negar o
conhecimento é negar o diferencial do ser humano em relação aos outros animais.
Negar a nossa essência.
Sem
as considerações religiosas, a fé de cada uma das civilizações que formaram o
mundo como o conhecemos hoje, o legados de cada crença deixou em todas as
culturas, não teríamos chegado onde chegamos – seja isso bom o ou ruim – e certamente
sem os questionamentos de tudo isso também não chegaríamos a lugar algum.
Agora,
consideremos: será certo que todas as escolas, religiosas ou não, tenham aulas
de Ensino Religioso?
Não
creio que seja prudente responder sim ou não. Mas considero importante
salientar, de maneira a concluir este post, que a Religião faz parte sim de
todos os cantos da nossa sociedade; ela constitui as culturas, a Filosofia e
até mesmo aquela que para muitos é sua “maior inimiga” – a ciência. O Ensino
Religioso faz parte da formação do senso crítico do indivíduo e, se executado
de maneira laica, imparcial, quem sabe ela poderá estar presente em todo e
qualquer currículo do Ensino Fundamental.