Então, por onde começar esta postagem?
Há exatos dois anos eu escrevi
uma postagem chamada “Por que aprendemos
certas coisas?”, na qual eu abordei quais eram as funções das diversas
disciplinas que estudamos no ensino fundamental e médio.
Pois bem, sinceramente, lendo
aqueles textos novamente, algo me veio à cabeça: como eu falei besteira.
Sim, falei tanta coisa errada,
coisa que hoje em dia eu mal consigo acreditar que saiu do meu pensamento.
Aqueles não são mais meus ideais, aliás, gostaria que jamais tivessem sido, e
por isso que eu quero consertar algumas dessas besteiras, falando cada dia um
pouco sobre uma disciplina diferente.
E o tema de hoje é: Filosofia.
Smok, por que você escolheu
Filosofia primeiro?
Bom, principalmente porque foi
uma das áreas mais “insultadas” do primeiro texto, pelo menos assim eu
considero, e segundo porque, há alguns dias atrás, um dos meus professores de
Filosofia lembrou-nos do significado de estudarmos tal ciência. Graças a isso,
eu me lembrei do meu post e fui procurá-lo para ver o que eu havia escrito. Eis
que eu acho a proeza:
“Filosofia. Eu odiava. Aprendi a gostar. E também descobri
porque eu odiava: porque tinha professores ruins. É o que eu sempre digo, a
filosofia é maravilhosa, desde que aplicada da maneira correta. O problema
desta ciência hoje em dia é que ela é dada pelas pessoas erradas. Pensem
comigo: os grandes filósofos, em sua grande maioria, eram matemáticos, físicos,
médicos...e hoje em dia quem nos ensina a filosofia são pessoas formadas em filosofia.
Ou seja, qualquer um. Seja ele adequando para aquele conhecimento ou não.
Aprendam: a filosofia é a arte de pensar, e não querer influenciar as pessoas.”
Uma coisa eu digo: minha base
para escrever isso na época certamente foi a base ruim que eu tive no ensino
fundamental, mas algumas coisas ainda existem na minha mente, porém seguem um
caminho diferente. Vamos a tais:
“Eu
odiava. Aprendi a gostar.”
É uma grande alegria da minha
vida dizer que o preconceito que eu tinha com a Filosofia aos meus doze anos de
idade de dissipou completamente logo que eu comecei o ensino médio, mesmo
começando a ter aulas da disciplina só agora. O ambiente da universidade, as
pessoas diferentes, as cabeças mais abertas me mostraram que a Filosofia era
algo completamente diferente do que eu achava que ela era, e que no fundo era
algo que eu fazia o tempo todo e gostava bastante. Isso se estendeu para outras
áreas do conhecimento, principalmente na parte de estudos sociais.
Eu tive três anos de filosofia no
ensino fundamental. A única coisa que me lembro da sexta série foi o professor
contando a história do Mito da Caverna, de Platão. As outras memórias que tenho
são todas da turma trazendo a sala abaixo enquanto o professor tentava fazer a chamada.
Portanto, não foi desenvolvida uma base, uma linha de pensamento que conduzisse
os anos seguintes da disciplina, fazendo com que nenhum dos alunos se
interessasse por ela. Em outras palavras, a sétima e a oitava série poderiam
ter sido muito mais interessantes se eu soubesse o que a Filosofia realmente
era. Devido àquele professor que não consegui controlar a turma, eu acabei
perdendo certos conhecimentos que poderiam ter-me sido muito importantes na
formação do meu caráter e dos meus ideais de vida.
“A filosofia sendo ensinada pelas
pessoas erradas”
Eu vejo essa afirmação como uma
ofensa. Uma ofensa de minha autoria, o que é ainda pior.
Em um ponto eu ainda concordo a
questão de “qualquer um” pode fazer filosofia na faculdade e se dizer
“filósofo.” Afinal, apesar de teoricamente uma pessoa que termina a faculdade
estar apta a realizar a função para a qual foi treinada, sabemos que na prática
as coisas são diferentes. Porém devo dizer que meus conceitos estão em constantes
mudanças – pois apesar de que eu ter aquela imagem negativa dos meus
professores do ensino fundamental – eu tive o prazer de conhecer, na
universidade, professores e estudiosos da filosofia que merecem o título de
“filósofo”.
Qual a diferença entre eles e os
professores que eu tinha no colégio? Talvez nenhuma. Mas uma coisa que eu
percebi é que as escolas não estão preparadas – ou a minha escola não estava
preparada, não sei ao certo – para trabalhar a Filosofia da maneira como ela
deve ser. A visão que eu tinha dessa ciência era puramente “estão tentando me
dizer o que eu devo fazer”. Pois bem, evidentemente eu estava errada. Em parte:
estavam sim me dizendo o que fazer – estavam me dizendo para pensar. Ensinando-me
a pensar. A indagar.
Como disse meu atual professor, “
(...) tudo aquilo que não parecer
evidente deve ser questionado. Essa talvez seja nossa única determinação
doutrinária: questionar tudo.”
Em outras épocas eu jamais
entenderia a profundidade desta frase. Afinal, realmente, para uma criança de
doze anos tudo isso parecia loucura, pura perda de tempo. A impressão que eu
tinha na escola era de que a Filosofia estava lá para nos amadurecer como
pessoas. Ou será que para estudar Filosofia precisa-se ter um determinado nível
de maturidade? Quem sabe um pouco de ambos? É o que me parece.
Mas quando digo maduros, digo não
somente no sentido de responsáveis, conscientes e abertos. Também no sentido de
saber construir o argumento, saber lidar com o conhecimento. E talvez algo
mais, algo que não pode ser transposto em palavras, mas que nós, quando
sentimos, sabemos o que significa.
“Pensem
comigo: os grandes filósofos, em sua grande maioria, eram matemáticos, físicos,
médicos...e hoje em dia quem nos ensina a filosofia são pessoas formadas em filosofia.”
De
fato. Na Antiguidade, nas Idades Média, Moderna, e em parte da Contemporânea,
de fato, a Filosofia era tão diferente quanto a sociedade. Ambas mantiveram sua
essência, mas evoluíram com o tempo, assim como a humanidade. O que significa
que o acesso à Filosofia também se tornou diferente. Afinal, por que mesmo só
os físicos, matemáticos, e outros cientistas poderiam ser filósofos? Não teriam
eles vivido em épocas em que a maior parcela da população era miserável e quase
completamente anônima? Em que mesmo que houvesse verdadeiros filósofos entre as
massas populares, estes seriam provavelmente seriam condenados ao oblívio?
Além
de que claro, não podemos deixar de considerar as filosofias orientais e mesmo das
tribos indígenas de todo o planeta, na maioria das vezes mascaradas pela maior
representação vinda do norte do Mediterrâneo.
Mas
chegando à última parte da frase, sobre as “pessoas formadas em Filosofia”. Primeiramente,
devo dizer que não concordo com o título de Filósofo para um Bacharel em
Filosofia. Não sei se as pessoas chamam assim por senso comum, ou se há outra
nomenclatura oficial, mas eu acho injusto, tanto com pessoas de fora quanto de
dentro do campo acadêmico da Filosofia, dizer que quem é formado em Filosofia é
um filósofo.
Eu
o chamaria de pensador, inegavelmente. Mas eu acredito plenamente na
possibilidade de que qualquer pessoa pode se tornar um filósofo – é claro que
as chances de um bacharel são muito maiores, porém eu acredito que a Filosofia
em si se constrói dentro da pessoa, como uma reflexão daquilo que ela
incorporou ao longo de seus estudos.
Por
fim, gostaria de reiterar que eu odiava Filosofia pelo único e exclusivo motivo
de não conhecê-la, não saber o que ela realmente era, e quando finalmente eu
percebi que a exercia diariamente, apesar de talvez não da maneira mais
acurada, descobri que era algo que eu realmente gostava, e gostava muito. A
Filosofia é a arte de indagar, conhecer e complementar, é o outro extremo
racional da matemática, que abre nossas mentes de maneira não linear e
ilimitada, dando ao indivíduo a liberdade de ter suas próprias ideias, criar
sua própria felicidade e mesmo que ela seja conferida como um fim em si mesmo,
ela tem como consequência prática um encontro do homem com si mesmo, no qual
ele se questiona, se estuda e se conhece.