Custei
a tomar coragem, mas finalmente resolvi escrever sobre o grande evento político
do ano. Hesitei muito, pela minha imaturidade política, mas neste ano há
peculiaridades que eu não vi em minhas outras experiências de eleições, que por
sinal não são muitas. De qualquer forma, é a primeira sucessão presidencial em
que eu votarei, mas não a primeira em que eu voto e muito menos a primeira que eu
acompanho, portanto creio que seja um momento ótimo para estudar e debater
algumas coisas.
Desde
o ano passado até pouquíssimo tempo atrás, a disputa entre Dilma Rousseff e
Aécio Neves foi o centro das atenções, evidenciando a “tradicional” polarização
PT-PSDB. Quando as primeiras pesquisas foram lançadas, colocava-se que Dilma
tinha chances de vencer no primeiro turno, mesmo após as Jornadas de Junho, que
causaram uma queda significativa na popularidade da Presidenta. Esta situação
foi se alterando ao longo dos meses, com Dilma oscilando bastante e Aécio
subindo aos pouquinhos, enquanto Eduardo Campos, candidato da chamada “terceira
via” pelo PSB e espécie de “sombra” de Marina Silva, se mantinha estável e os
candidatos “nanicos” eram ignorados pela mídia tradicional.
Antes
de passar adiante, devo lembrar que 2014 não é só ano de eleições. Foi também
ano de Copa do Mundo e, por mais que isso não tenha um significado tão potente
do pleito (se é que tem) quanto tem para mim, os 50 anos do Golpe Civil-Militar de 1964.
As
poucas pessoas que acompanham este blog sabem que eu comparei muito os anos de 2014 e 1964, em especial no que diz respeito aos absurdos, como a segunda
edição da Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade, causada por um sentimento
anticomunista irracional que não faz o mínimo sentido existir na nossa época.
Acho que esse tipo de atitude diz um pouco sobre os diferentes tipos de
pensamento que a população possui, e neste caso em específico, me parece
bastante assustador e representa um retrocesso lastimável. Seja como for, isso
se uniu à Copa do Mundo no Brasil, que foi marcada, principalmente pela grande
mídia, pelos superfaturamentos. Como o PT é considerado por determinada
parcela da população como O antro de
corrupção, o megaevento foi um prato cheio para estupefações, ignorando alguns
problemas bem mais sérios causados por ele, como o despejo de famílias e a
violência policial.
Dentro
deste contexto todo, as intenções de voto em Dilma diminuíram e se
estabilizaram, enquanto parecia que as tendências eram para que Aécio subisse.
Confesso que foi um momento desagradável – só de imaginar a possibilidade do
PSDB voltando ao poder, fiquei um tanto temerosa. Não que eu tenha vivido de
fato o governo FHC – afinal, minha primeira “lembrança política” é a eleição de
Lula em 2002, mas sendo filha de professores universitários do sistema federal
e vivendo no Paraná, um Estado governado pelo PSDB, conheço o suficiente da
história e da ideologia do partido para querer ele longe do Planalto. O que
ninguém esperava é que antes mesmo do início dos programas eleitorais começarem
a interromper as novelas e os telejornais, o terceiro lugar da disputa, Eduardo
Campos, morreria em um acidente de avião.
Que
reviravolta! Logo Marina Silva foi declarada candidata oficial do PSB e
apareceu, logo na primeira pesquisa realizada com seu nome, no segundo lugar no
primeiro turno e tecnicamente empatada com Dilma Rousseff no segundo. Aécio Neves, por sua
vez, começou a cair naquele momento e não parou mais. O PSDB caiu no ramo da tal
da terceira via e, pela primeira vez temos duas mulheres como favoritas na
disputa pela Presidência da República.
Cenário, candidatos
e – sim - alternativas
Eu
diria, de uma maneira simples de analisar o cenário, que as consecutivas
ascensões de Aécio nas pesquisas se deviam não a simpatia pelo PDSB, mas sim a
uma forte rejeição ao PT. Dado isso, com a substituição de Campos por Marina, o
eleitorado, que já era apreciador da ex-senadora desde 2010, levou seus votos a
ela em busca de uma alternativa. Só que não é só a Marina que é uma
alternativa, se é que ela realmente é uma. Há diversos partidos menores que são
ignorados. É claro que há alguns candidatos realmente bizarros, como o
ultradireitista [Pastor] Everaldo Pereira e o clássico Levy Fidelix. Também não
deixa de ser (ou ter sido) bizarro o candidato do Partido Verde, Eduardo Jorge,
que agiu de maneira totalmente fora de qualquer padrão durante os debates e
tomou algumas posições tradicionalmente defendidas pela esquerda (à qual o PV
não faz parte), como a descriminalização do aborto e a legalização das drogas.
A candidatura mais à esquerda nos debates é a de Luciana Genro, do PSOL, que além
das bandeiras do aborto de das drogas colocadas pelo candidato do PV, defende
reforma tributária (taxação de grandes fortunas) e tem uma pauta muito
importante que são os direitos dxs LGBTs (ou questões de gênero, para podermos
tratar de maneira mais ampla), um dos (vários) assuntos que levaram a polêmicas
envolvendo o plano de governo de Marina Silva.
Além
dos candidatos mais presentes na mídia, há mais quatro candidatos menores,
ignorados pelos debates e praticamente insignificantes nas pesquisas: Eymael, do
PSDC; José Maria, do PSTU; Rui Costa Pimenta do PCO e Mauro Iasi, do PCB.
Eymael tem um discurso clássico dos ditos “cristãos”, não se diferenciando
muito, creio eu, de Everaldo Pereira. Apesar de sua pouca influência nas pesquisas e participação em um único debate,
é bastante conhecido graças a seu lendário jingle.
Já os outros três, provavelmente os presidenciáveis mais à esquerda de todos
(inclusive mais que o PSOL), mal são lembrados, mesmo o veterano José Maria,
que foi do PT, participando inclusive de sua criação. Carentes de recursos
para as campanhas, o alcance dos partidos destes candidatos é muito curto e se
comparado com os dos três melhor colocados, acaba se tornando insignificante.
Lamentavelmente. Suas propostas não passam longe das necessidades da população,
mas ainda assim a rejeição aos nomes socialismo
e comunismo nas bases destes partidos
se sobressai a ideias realmente interessantes e necessárias.
Está chegando
Com
o pleito se aproximando, é bem provável que a disputa acabe entre Dilma e
Marina. Acho difícil que Aécio suba de repente. Se nem mesmo em Minas Gerais,
onde ele foi governador e vem focando sua campanha, o tucano está
conseguindo manter o apoio, quem dera no resto do país, excetuando São Paulo e
algumas regiões menores mais conservadoras. Agora, qual das duas candidatas ao
segundo turno será vitoriosa, aí é outra história. Enquanto boa parte das
pesquisas recentes indicou empate técnico, alterando um pouco as chances de
Marina Silva, outras apontaram um enorme otimismo para o PT, sugerindo até
mesmo uma nova possibilidade de Dilma vencer no primeiro turno. Não creio, de
forma alguma, que isso venha a acontecer, mas me parece evidente que a petista
ainda possui chances grandes de voltar ao Planalto. E entre Dilma e Marina,
fico com Dilma. Ela não tem meu voto no primeiro turno, pois entre os onze
presidenciáveis, para mim ela não é a melhor opção. Já no segundo turno, não
confio em Marina – Margaret Thatcher para alguns, Lula para outros, não só sua
credibilidade está manchada quanto seus posicionamentos se mostram cada vez
mais similares aos do PSDB. Portanto, para mim é Thatcher. Respeito sua
trajetória, assim como respeito a de Dilma. Todavia, para mim nenhuma das duas,
no momento, representa um caminho efetivo de mudança.